A União Européia regulamentou a produção e a rotulagem dos vinhos rosés, atitude louvável que porém desencadeou uma série de polêmicas e de lamentações por parte dos produtores, sobretudo os franceses; vamos tentar entender os fatos.
A Organização Comum do Mercado Agrícola europeu, decidiu que, para preservar a qualidade do vinho rosé produzido pelos países de lá, o produtor poderá rotular o seu rose como “vinho rosé tradicional”, ou outra nomenclatura de acordo com a língua do país produtor, na Italia, por exemplo, será “Vino Rosato Tradizionale”.
Até aí tudo bem, o problema é que até então a Europa, que produz dois terços do vinho rosé do planeta, podia contar com uma vinificação de qualidade garantida “somente o sumo de uvas tintas gentilmente prensadas poderá transformar-se em vinho rose”.
Uma maneira perfeita para expressar as características primárias de um varietal e seu terroir, com a habilidade e o trabalho de um bom enólogo para proteger o delicado equilíbrio de um vinho que não é nem branco e nem tinto.
Junto com essa resolução, infelizmente, o órgão comum resolveu liberar a produção comunitária do vinho rosé por mistura, que até então costumava chegar a Europa importado de outros países, onde a legislação é muito mais branda em matéria de vinificação, geralmente do Novo Mundo.
O Rosé de mistura, é aquele vinho que é feito a partir do blend de vinhos brancos com vinhos tintos, mas a lei européia não prevê que precise ser rotulado de alguma forma especifica, ou seja, a nomenclatura “Rosé de Mistura”, ou “ Rosato da Miscelazione” é facultativa, daí nasceu a revolta dos produtores.
Algum comentários:
“Uma escolha escandalosa, estão deslegitimando a produção enológica de qualidade” – Marco Pallanti, presidente do Consorcio do Chianti Classico, enólogo e sócio do Castello di Ama.
“Si poderá fazer vinho rosé com um tinto da Sicília e um branco do Friuli, e dane-se o Terroir” – Anónimo produtor Italiano.
“Em igualdade de preço das uvas, a produção de um rosé tradicional custa 20% mais cara que a de um tinto ou um branco” – Mattia Vezzola, enólogo de Bellavista em Franciacorta.
“C’est une couillionade” – Alain Boeuf, famoso chef da Provence.
Um dos pontos do problema é justamente aquele levantado por Mattia Vezzola, a produção do vinho rosé tradicional, por causa da prensagem soft, rende menos sumo que uma prensagem vigorosa, como aquela dos vinhos tintos e brancos tradicionais, isso dá uma diferença de quase vinte por cento; pelo contrário um rosé de mistura, além de permitir desovar eventuais sobras de produção (isso me lembra certos rosés brasileiros da década de 80-90 que hoje, por sorte, já não mais são produzidos) ainda não precisa de nenhum cuidado com a prensagem etc., já que tinto e branco são vinificados separadamente.
A pior repercussão à notícia se deu na França, onde existem vinícolas, na Provença, que produzem algo como vinte milhões de garrafas/ano; para fazer um paralelo, na Itália toda, a produção de rosé não ultrapassa os oito milhões de garrafas/ano.
De Bruxelles veio também a réplica, “os produtores europeus precisam ter as mesmas oportunidades dos que exportam para cá” assim Mariann Fischer Boel, Comissária Européia para a Agricultura.
Em suma para o consumidor vai ser importante verificar a nomenclatura no rótulo, para saber se estará apreciando um autentico rosé tradicional, inclusive porque ”...é muito difícil perceber a diferença, a tecnologia permite hoje todo tipo de maquilagem, porém a finesse e a elegância de um rosé tradicional não se comparam com as apresentadas por um misturado, por isso seria importante que isso ficasse bem claro a partir do rótulo do vinho.” – Mattia Vezzola.
Fonte “L’Espresso”
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