Conforme tínhamos prometido, vamos continuar com o relato da degustação que envolveu alguns dos espumantes mais consumidos em Fortaleza, preciso salientar que a intenção dessa degustação não foi de avaliar qual o melhor ou o pior, o objetivo, claramente comercial, foi de estabelecer a adequada relação custo - beneficio de cada um dos espumantes envolvidos, saber, enfim, se o preço cobrado bate de fato com a qualidade apresentada pelo vinho.
Por se tratar de um assunto comercial, essas conclusões não serão debatidas aqui, o blog VINHOFORTALEZA é um espaço CULTURAL, aqui não se objetiva vender nem privilegiar nenhum vinho / produtor / importador; portanto apenas relataremos as impressões organolépticas que esse que escreve percebeu.
Prosseguindo já com rótulos mais caros encontramos:
- TARAPACÁ BRUT: Chilena, método Charmat, este espumante leva em sua composição 20% de Sauvignon Blanc, e deu para perceber, o perlage é em linha com os demais Charmat, não entusiasma, mas também não apresenta defeitos, o aroma predominante é o da Sauvignon Blanc que se sobressai às demais variedades (Chardonnay e Pinot Noir), um tanto fora dos padrões para um espumante; o xixi de gato (alguns preferem comparar o aroma típico da Sauvignon Blanc ao aroma de folha de tomate ou de arruda) e' extremamente marcante, aquele herbáceo típico da Sauvignon Blanc, misturado a claras notas de maracujá, quando passa a surpresa inicial, se tornam agradáveis e intensos; na boca se apresenta seco, de corpo médio e boa persistência, boa acidez refrescante.
- CHANDON RESERVE BRUT: Serra Gaúcha, Charmat, perlage fino e mediamente persistente, nariz não muito nítido, apresentando características notas frutadas e florais com leve toque de pedra de isqueiro a denunciar a presença de Riesling Italico, um vinho de nao muita intensidade olfativa, na boca acidez correta e refrescante, bom corpo e final persistente, um Charmat feito como prescreve o manual de instruções da multinacional francesa, obviamente bem feito.
- MIOLO BRUT: Serra Gaúcha, Champenoise, novamente um perlage diferenciado, fino, persistente e que "agarra" bem na borda e no fundo da taça e fica soltando com continuidade, no nariz boa presença frutada, cítrica e floral, toques de frutas secas e brioche, não muito acida na boca, de bom corpo, final persistente e agradável.
- CASA VALDUGA PREMIUM BRUT, Serra Gaúcha, Champenoise, infelizmente este espumante estava com sintomas de oxidação e, portanto, foi retirado da degustação, apesar de não apresentar nenhum amargor e nem defeitos graves, mostrou, isso sim, uma riqueza olfativa muito interessante, de frutas secas, amêndoas e nozes, brioche acentuado e muita complexidade. Foi desclassificado, por não estar em conformidade com os padrões da degustação, que visava comparar os espumantes consumidos normalmente e não avaliar as características evolutiva do vinho.
Nesta bateria registramos a inusualidade do Tarapacá Brut que, com o aroma peculiar, gerou certa surpresa, em positivo; pudemos comprovar a boa qualidade e a confiabilidade do Miolo Brut e para concluir devo confessar que esperava um pouco mais do Chandon Reserve Brut, o qual mostrou ser um Charmat feito muito corretamente, mas de pouca personalidade, um tanto quanto "comum".
Na ultima bateria apenas degustamos dois espumantes, os mais caros de todos, acima de R$ 50,00:
- CHANDON EXCELLENCE: Serra Gaúcha, Charmat Longo (Pinot Noir e Chardonnay), o perlage deste espumante já demonstra bem mais personalidade, o Charmat longo confere ao vinho a finesse e a persistencia que o deixam extremamente agradável na taça, o nariz muito equilibrado, amplo, com frutas frescas a polpa branca, toques citricos, florais, evolui para a brioche e as frutas secas, mas muito discreto, na boca extremamente equilibrado, acidez correta, bom corpo e final longo.
- CASA VALDUGA 130 BRUT: Vale dos Vinhedos, Champenoise (36 meses), de Chardonnay e Pinot Noir, na taça a diferença é gritante, o perlage é finíssimo, persistente, com muitos pontos na taça (taça ISO, nelas o perlage tem vida difícil), forma um colarinho ao redor da taça que costuma ser revelado apenas em espumantes de elevada qualidade (o Champagne, por exemplo), no nariz se percebe imediatamente aquela que considero a impressão digital da 130, o aroma de casca de limão, seguido pelas outras frutas, abacaxi, pera e maça, evolui para as frutas secas (leves) e a brioche, fragrante, nítido. Na boca a cremosidade impressiona, um pequeno gole preenche toda a boca, o ataque é suave, a acidez correta e o final interessante.
Se quisermos marcar pontos a melhorar falaríamos de uma certa suavidade excessiva (apesar de ser claramente um brut) e do final de boca que poderia ser um pouco mais longo, mas ai já seríamos exigentes demais, este vinho só pode ser comparado com outro Champenoise com importante permanência "sur lie", como o Champagne ou certos bons exemplares de outras vinícolas da Serra Gaúcha, dificilmente encontrados no mercado local (ou presentes de forma pouco expressiva nao justificando a inclusão nesta degustação, pelos motivos que explicamos antes).
Desta última parte da degustação gostaria de ressaltar o equilíbrio e a elegância do Chandon Excellence, que fazem deste vinho um companheiro ideal para as festas de alto nível (por causa do preço) e ocasiões comemorativas, já o Casa Valduga 130 é um espumante de qualidade superior, gastronômico, muito rico em detalhes e nuances que merece uma degustação calma e mais reflexiva, para apreciá-lo em sua totalidade; trata-se de dois grandes vinhos.
Para concluir uma menção ao excelente atendimento da brigada do Restaurante Sah e a qualidade do cardápio, preparado com esmero pelo chef Marco Gil, merecidamente eleito Chef do Ano pela revista Veja, parabéns pelo renovado sucesso do restaurante e que assim continue, de vento em popa.
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