O Chianti é sem duvida o vinho mais conhecido da Toscana, de
renome mundial, seus vinhedos abrangem uma área muito vasta que cobre as
colinas desta região no centro da Itália; do Chianti temos registros históricos
que remontam ao ano de 1398, quando um tabelião da Idade Média se referia ao
vinho produzido entre as Cidades de Firenze e Siena com o nome que no futuro
designará o vinho talvez mais famoso da Itália.
De tanto famoso e procurado o Chianti se tornou sinônimo de
venda certa no mercado interno e externo, tanto que, num passado recente,
notadamente ao longo do século XX, graças à benevolência de alguns e a ganância
de outros, sua área de produção aumentou muito alem das colinas originarias, incluindo
áreas que originariamente não eram voltadas para viticultura e dando origem a
um considerável crescimento de vinhos ostentando a cobiçada denominação no
rotulo, situação que obviamente satisfez a demanda comercial, mas que não
rendeu muita justiça à qualidade do vinho.
Para evitar uma derrocada geral na qualidade e uma confusão generalizada
no comercio, os mais influentes produtores da região correspondente à antiga e
histórica área de plantio, reconhecida oficialmente desde 1932, passaram a adotar
o nome de Chianti Clássico, para designar os vinhos produzidos nas
colinas tradicionais das províncias de Siena e Firenze; uma região de extensão
bem menor quando comparada à área plantada do Chianti comum, mas certamente a
alta vocação vitivinicola, responsável por uma qualidade superior dos solos e
das uvas.
Chamado a zelar pela tipicidade do Chianti Clássico e para
promover suas qualidades mundo afora, o Consórcio do Chianti Clássico, cujo
símbolo é o já citado Galo Preto, desenvolve varias atividades promocionais,
cursos e merchandising, a partir de sua sede histórica, um convento medieval
que se debruça sobre as colinas sulcadas pelos vinhedos e pinceladas pelo verde
claro das oliveiras, na cidade de Radda in Chianti.
Hoje o Chianti Clássico é um vinho a Denominação de Origem
Controlada e Garantida (DOCG) produzido a partir da uva emblemática da Toscana,
a Sangiovese,
em sua composição são admitidos outros varietais tintos incluindo os internacionais,
como Cabernet
Sauvignon e Cabernet Franc, na proporção máxima de 20%; muitos produtores,
no entanto, preferem trabalhar com a Sangiovese em pureza.
O Chianti Clássico pode ser comercializado somente a partir
do dia 1º de Outubro do ano subseqüente ao da colheita, aquele com a menção “Reserva”
deverá ser submetido a um envelhecimento mínimo de 24 meses, três dos quais em
garrafeira; o disciplinar não faz restrições referente ao tipo de recipiente
para o envelhecimento, cabe ao produtor determinar o estilo de seu vinho
escolhendo entre o tanque de aço inox, a pileta de cimento, o barril grande, a barrica
ou o tonneaux francês de 500 litros. Todas as operações de vinificação e
envelhecimento do Chianti Clássico devem acontecer obrigatoriamente dentro da
região de produção.
O Chianti Clássico é um vinho de corpo médio, macio e com uma
boa veia acida que favorece a harmonização com a gastronomia da região, como
uma excelente bisteca “Fiorentina”, um corte bovino que
corresponde ao contrafilé alto com osso, algo que lembra o T-Bone Steak, uma
delicia, sobretudo quando retirado a partir de uma raça de gado local, a “Chianina”,
originaria do Vale de Chiana.
Já o Reserva é opulento, mais encorpado, por vezes tânico,
com uma estrutura mais importante, não tem nenhum problema em envelhecer,
embora não seja esta sua característica principal.
Definitivamente existe uma substancial diferença organoléptica
entre o Chianti Clássico comum e a versão reserva, dois vinhos fantásticos, mas
que compartilham do mesmo problema, um preço bastante elevado, tanto nas lojas
especializada da região, como nas próprias vinícolas as quais, com o
eno-turismo em alta no mundo todo, recebem muitas visitas de enófilos e
compradores. A elevada procura faz com que a lógica do negocio seja revertida,
se normalmente comprar o vinho diretamente na vinícola significa poupar alguns
Euro, neste caso isso não acontece. Eu mesmo cheguei a pagar excelentes
garrafas de Galo Nero, nas lojas especializadas de Milão ou Roma, a preços menores
que os que me pediam na loja do produtor, dentro da vinícola,
Como já tive modo de afirmar, os Florentinos sempre foram
hábeis comerciantes, os Seneses com certeza aprimoraram esta arte também, a
Toscana e o Chianti “vendem” bem, os comerciantes e produtores locais
demonstraram saber aproveitar da beleza desta, literalmente, maravilhosa região
e eu nada tenho contra a exploração destas realidades, mas todo mundo precisa
atentar para não exagerar esse aspecto, afinal Chianti Classico, mesmo quando
reserva, não é Brunello di Montalcino, nem Nobile di Montepulciano, as
diferenças de qualidade existem e separam estes vinhos mais do que a diferença
de preço.
Radda in Chianti - Chianti Classico
Broto de Sangiovese no tradicional cordão esporoado toscano
A Toscana - videiras e oliveiras.
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