quarta-feira, 3 de julho de 2013

O CHIANTI CLASSICO

Colinas do Chianti com vista da cidade de San Gimignano 

O Chianti é sem duvida o vinho mais conhecido da Toscana, de renome mundial, seus vinhedos abrangem uma área muito vasta que cobre as colinas desta região no centro da Itália; do Chianti temos registros históricos que remontam ao ano de 1398, quando um tabelião da Idade Média se referia ao vinho produzido entre as Cidades de Firenze e Siena com o nome que no futuro designará o vinho talvez mais famoso da Itália.

De tanto famoso e procurado o Chianti se tornou sinônimo de venda certa no mercado interno e externo, tanto que, num passado recente, notadamente ao longo do século XX, graças à benevolência de alguns e a ganância de outros, sua área de produção aumentou muito alem das colinas originarias, incluindo áreas que originariamente não eram voltadas para viticultura e dando origem a um considerável crescimento de vinhos ostentando a cobiçada denominação no rotulo, situação que obviamente satisfez a demanda comercial, mas que não rendeu muita justiça à qualidade do vinho.

Para evitar uma derrocada geral na qualidade e uma confusão generalizada no comercio, os mais influentes produtores da região correspondente à antiga e histórica área de plantio, reconhecida oficialmente desde 1932, passaram a adotar o nome de Chianti Clássico, para designar os vinhos produzidos nas colinas tradicionais das províncias de Siena e Firenze; uma região de extensão bem menor quando comparada à área plantada do Chianti comum, mas certamente a alta vocação vitivinicola, responsável por uma qualidade superior dos solos e das uvas.

Chamado a zelar pela tipicidade do Chianti Clássico e para promover suas qualidades mundo afora, o Consórcio do Chianti Clássico, cujo símbolo é o já citado Galo Preto, desenvolve varias atividades promocionais, cursos e merchandising, a partir de sua sede histórica, um convento medieval que se debruça sobre as colinas sulcadas pelos vinhedos e pinceladas pelo verde claro das oliveiras, na cidade de Radda in Chianti.  

Hoje o Chianti Clássico é um vinho a Denominação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) produzido a partir da uva emblemática da Toscana, a Sangiovese, em sua composição são admitidos outros varietais tintos incluindo os internacionais, como Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, na proporção máxima de 20%; muitos produtores, no entanto, preferem trabalhar com a Sangiovese em pureza.

O Chianti Clássico pode ser comercializado somente a partir do dia 1º de Outubro do ano subseqüente ao da colheita, aquele com a menção “Reserva” deverá ser submetido a um envelhecimento mínimo de 24 meses, três dos quais em garrafeira; o disciplinar não faz restrições referente ao tipo de recipiente para o envelhecimento, cabe ao produtor determinar o estilo de seu vinho escolhendo entre o tanque de aço inox, a pileta de cimento, o barril grande, a barrica ou o tonneaux francês de 500 litros. Todas as operações de vinificação e envelhecimento do Chianti Clássico devem acontecer obrigatoriamente dentro da região de produção.

O Chianti Clássico é um vinho de corpo médio, macio e com uma boa veia acida que favorece a harmonização com a gastronomia da região, como uma excelente bisteca “Fiorentina”, um corte bovino que corresponde ao contrafilé alto com osso, algo que lembra o T-Bone Steak, uma delicia, sobretudo quando retirado a partir de uma raça de gado local, a “Chianina”, originaria do Vale de Chiana.
Já o Reserva é opulento, mais encorpado, por vezes tânico, com uma estrutura mais importante, não tem nenhum problema em envelhecer, embora não seja esta sua característica principal.

Definitivamente existe uma substancial diferença organoléptica entre o Chianti Clássico comum e a versão reserva, dois vinhos fantásticos, mas que compartilham do mesmo problema, um preço bastante elevado, tanto nas lojas especializada da região, como nas próprias vinícolas as quais, com o eno-turismo em alta no mundo todo, recebem muitas visitas de enófilos e compradores. A elevada procura faz com que a lógica do negocio seja revertida, se normalmente comprar o vinho diretamente na vinícola significa poupar alguns Euro, neste caso isso não acontece. Eu mesmo cheguei a pagar excelentes garrafas de Galo Nero, nas lojas especializadas de Milão ou Roma, a preços menores que os que me pediam na loja do produtor, dentro da vinícola,

Como já tive modo de afirmar, os Florentinos sempre foram hábeis comerciantes, os Seneses com certeza aprimoraram esta arte também, a Toscana e o Chianti “vendem” bem, os comerciantes e produtores locais demonstraram saber aproveitar da beleza desta, literalmente, maravilhosa região e eu nada tenho contra a exploração destas realidades, mas todo mundo precisa atentar para não exagerar esse aspecto, afinal Chianti Classico, mesmo quando reserva, não é Brunello di Montalcino, nem Nobile di Montepulciano, as diferenças de qualidade existem e separam estes vinhos mais do que a diferença de preço.

Radda in Chianti - Chianti Classico

Broto de Sangiovese no tradicional cordão esporoado toscano

A Toscana - videiras e oliveiras.

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