... Firenze e Siena, eis ai duas cidades que, em plena Idade
Média, disputaram ferozmente entre si o domínio daquela parte de Toscana que
surge ao redor da Via Francigena e
que hoje corresponde ao território administrativo de suas províncias, onde se
produzem os vinhos clássicos da Toscana, aqueles da tradição mais antiga e com
muitas historias para contar, vinhos como o Chianti
Classico, o Brunello di Montalcino
e o Vino Nobile di Montepulciano.
Reza a mais famosa destas historias que, cansados de décadas de
guerra, com as finanças em frangalhos de tanto pagar exércitos mercenários para
lutar em seu nome, os senhores das duas cidades se encontraram e bolaram uma
maneira menos cruenta de resolver a questão, ficou combinado que, em
determinado dia, ao primeiro cantar do galo, dois cavaleiros, um de Firenze e o
outro de Siena, sairiam de suas respectivas cidades e percorreriam a estrada
que as unia; no ponto em que os dois se encontrassem seria estabelecida a
divisa entre os dois territórios.
Os Seneses escolheram para cantar na alvorada marcada, um
galo branco e o trataram como nenhum exemplar desta raça de aves jamais tinha
sido tratado até então, ração variada, galinhas, sombra e água fresca em
abundancia, para mostrar para ave a importância que a inteira cidade confiava
em seu trabalho canoro.
Já os florentinos, raça de banqueiros sem escrúpulos e ávidos
comerciantes, escolheram um galo preto e o trataram como ninguém jamais mereceu
ser tratado, trancafiaram o infeliz galináceo numa gruta sombria e escura, sem
água nem comida por vários dias, quase a demonstrar qual futuro teria caso não desempenhasse
a contento suas funções no amanhecer fatídico.
Inútil dizer que no dia marcado o galo branco, acostumado às
mordomias e ressacas após as noitadas com as galinhas, gentilmente postas a
disposição pela administração municipal, após lento espreguiçar matinal,
ensaiou um canto já em hora um tanto avançada.
Ao passo que seu colega preto lá em Firenze, que mal podia
esperar pelo dia da libertação de seu castigo, assim que o sol ameaçou aparecer
já estava berrando a plenos pulmões, tanta a fome e a sede que o infeliz tinha
sofrido nos últimos dias.
Pode se imaginar o espanto do cavaleiro chamado a defender as
cores de Siena que mal tinha cavalgado estrada adentro, quando esbarrou no
florentino, a pouca distancia das muras de Siena, com tamanha distancia já
percorrida graças ao desempenho canoro do galo preto.
Por certo sabemos que já na Idade Media a sabedoria popular
sugeria que acordos são bons, mas o melhor mesmo é se garantir, logo a cidade
de Firenze organizou uma tropa de soldados mercenários com a única incumbência
de vigiar as novas fronteiras, cujo símbolo era justamente um galo preto.
Esta milícia passou a se chamar “Lega Del Chianti” e atuou em patrulhamento das fronteiras entre as
duas cidades durante vários séculos, seu histórico brasão foi revitalizado em
épocas recentes pelo “Consórcio de tutela
do Chianti Clássico”, órgão fiscalizador e promotor dos melhores vinhos
desta região histórica. Hoje aproximadamente 98% dos produtores de Chianti Clássico
adotam o galo preto no gargalo de suas garrafas.
Firenze - A Basílica
Firenze - Ponte sobre o Arno e vista da Margem Direita
Firenze - Piazza della Signoria - Palazzo Vecchio
Siena - Vista da cidade e da Catedral
Siena - Torre del Mangia e vista da Cidade
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