Já tratei neste blog de Prosecco, do excelente desempenho deste vinho no mercado internacional, bem como da dedicação de alguns produtores na busca de uma qualidade diferenciada, está então na hora de ouvirmos o lado "B" deste velho disco.
Vamos conhecer melhor o protagonista desta historia, tradicional Charmat da região aos arredores da cidade de Treviso, que se tornou celebre por ser base de receita de vários aperitivos nos charmosos bares de Venezia, ao longo do seculo XX.
Antes de tudo o Prosecco passou por uma reviravolta alguns anos atrás, quando os produtores da região, acreditando no potencial de venda deste espumante leve, frutado e agradável, de preço extremamente competitivo, apostaram na procura pelas borbulhas de consumidores de alguns países emergentes, cuja "sede" era (ou é) inversamente proporcional ao poder aquisitivo (e talvez ao conhecimento).
Partindo deste conceito deram inicio a "Operação Prosecco", criando uma Denominação de Origem, DOC, com delimitações territoriais muito maiores que aquelas das regiões históricas do Prosecco, Conegliano e Valdobbiadene, englobando territórios sem nenhuma tradição, esticando os limite até regiões que jamais tiveram se quer a mínima conexão com o nosso, em nome da produção em larga escala, a baixo custo e para largo consumo, um verdadeiro commodity do vinho.
Chegando ao cumulo de estender os limites territoriais para plantio da uva que dá origem a este vinho, até os arredores da cidade de Trieste, na região do Carso, já na divisa com a Eslovênia (ver mapa abaixo), onde existe uma vila chamada Prosecco na qual se cultivam desde antigamente uns poucos filares de uva Glera e justificar assim, perante a União Europeia, o direito de se apossar de um nome (Prosecco) que, até então, era usado para definir de forma geral os espumantes produzidos a partir desta uva, qualquer fosse sua origem (inclusive do Brasil).
Uma operação que Alfonso Cevola, influente Wine Blogger italiano, utilizou a língua inglesa para definir como "The rape of Veneto" (mais ou menos ... O estupro do Veneto), condenando sem apelo o processo de popularização de um vinho cuja terra e origens foram deturpadas e sacrificadas no altar do lucro desmedido e a qualquer custo, num processo de perversão que descaracterizou completamente uma região inteira, para transformá-la em uma fonte de abastecimento de espumante medíocre destinado ao consumo de quem não pode se permitir um Champagne ou um outro espumante de qualidade.
Nem todos os produtores porém entraram nesta ciranda, alguns dos mais tradicionais resolveram reagir para resguardar seu patrimônio que, para quem vive do campo, é a terra e a tipicidade de seus frutos.
Na tentativa de salvar o possível foram instituídas denominações mais especificas, elevando a região clássica de Conegliano e Valdobbiadene à Denominação de Origem Controlada e Garantida, DOCG, e reconhecendo oficialmente a denominação adjuntiva "Rive" de acordo com o conceito de Cru.
Esta reação pode e deve orientar o consumidor na hora da escolha, procurar as especificações nos rótulos de Prosecco é um bom habito para não compactuar com o deturpamento do patrimônio cultural de uma região.
fonte: www.vinoalvino.org / acevola.blogspot.it
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