GEOGRAFIA CLIMA E TERROIR
Visão do Aconcagua - lado chileno
Como em todos os países da America Latina, também no Chile a
parreira chegou através dos conquistadores e dos missionários europeus, por
volta do século XVI: desde então, até a segunda metade do século XX a videira
arranjou-se como pode para sobreviver em ambientes nem sempre propícios e, nos
últimos trinta anos, viu renascer sua importância e seu valor, ficando no
centro das atenções.
O país que antes dos demais conseguiu dar a merecida
visibilidade aos vinhos do Sul das Américas é, sem duvida, o Chile, seus vinhos
são apreciados nos principais mercados internacionais, onde representam
alternativas confiáveis e mais econômicas aos exemplares cada vez mais caros,
de Califórnia e Austrália, com os quais dividem as prateleiras da grande
distribuição pelo mundo afora. Ultimamente o Chile surpreendeu o mundo
apresentando vinhos com excelente qualidade e tipicidade, tintos estruturados
na maioria, com alguns brancos refrescantes e aromáticos.
Antes de tudo é bom dar uma olhada na geografia do Chile, país
espremido entre a Cordilheira dos Andes ao Leste e o Oceano Pacifico a Oeste; ao
Norte, na divisa com o Peru, temos o deserto do Atacama e ao Sul, a Terra do
Fogo e a Antártida com suas geleiras, seus pinguins etc.
O desenvolvimento da vitivinicultura moderna no Chile é fruto
da conscientização que as características climáticas, ou melhor,
microclimáticas, precisam ser compreendidas e exploradas de forma consciente,
no total respeito ao meio ambiente, na busca daquela qualidade que, tenho
certeza, o potencial do terroir chileno, ainda guarda para os enófilos do mundo
todo.
Vale de Casablanca
Alguns números: O Chile mede 4.270 Km de Norte a Sul e apenas
177 km em media de Leste a oeste, estes dados nos levam inevitavelmente a
pensar nele em sentido longitudinal, mas a geografia do Chile é mais complexa
do que pode aparecer a primeira vista.
Considerando as barreiras naturais que formam uma proteção
entorno dos vinhedos chilenos, temos o deserto ao Norte e as geleiras ao Sul;
ao Leste o Chile é protegido pelos picos da Cordilheira, com o Monte Aconcagua
a erguer-se a quase 7.000 metros, enquanto pelo lado Oeste a barreira é formada
pelo Oceano Pacifico, cujas águas sofrem a influencia da corrente de Humboldt,
que a partir das águas geladas da Antártida, torna muito pouco atrativa a
pratica do banho de mar; curioso observar que quando a corrente encontra o
litoral, provoca nevoeiro e nuvens baixas, mas poucas chuvas, contribuindo
assim a fazer do Atacama o deserto mais seco do mundo. Então temos aí o quadro
completo de uma região peculiar, onde a parreira cresce e se desenvolve dentro
de um Oasis, protegida por situações geográficas extremas, isoladas inclusive
das pragas naturais que aterrorizam os vinhateiros do resto do mundo, como a
terrível philoxera, que por aqui nunca apareceu.
Parreiras antigas de Cabernet Franc no Vale do Maule
Pode parecer um paradoxo, mas os 177 km de largura média do
Chile, para o vinho de qualidade, pesam mais que os 4.000 e tantos de
cumprimento deste país,; o que vale mesmo, caso a caso, é a proximidade dos
vinhedos às frescas e úmidas brisas da Costa, onde as uvas brancas e o Pinot
Noir dão o melhor de si, ou a localização nos vales do interior, de clima
quente e ensolarado, terra dos grandes Cabernet, dos suculentos Syrah e do varietal
exclusivo chileno, o Carmenere; chegando até as vertentes da Cordilheira, onde
os vinhedos são plantados nas encostas de
insolação acentuada e elevada excursão térmica; aqui os vinhos assumem
uma característica mais elegante, refrescante e gastronômica, ao estilo
europeu, diferenciando-se daqueles típicos exemplares frutados e de alto teor
alcoólico, que fazem o estilo “Novo Mundo”.
Alem disso sabemos quanto a geologia seja importante na
qualidade dos vinhos, o fato que o Chile seja situado justamente sobre a união
das placas tectônicas de Nazca e Sudamericana, faz desta terra uma área rica de
solos de diferentes composições convivendo lado a lado, no espaço de poucos
quilômetros, configurando vários terroir distintos entre si, possibilitando
vinhos de tipicidade diferente, para a felicidade do enólogo que saiba
interpretar sabiamente este presente da natureza.
O artigo acima foi publicado na revista italiana "Il Sommelier" na edição de Maio / Junho 2012.
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