sexta-feira, 22 de julho de 2011

SANTA CATARINA E OS VINHOS DE ALTITUDE

Vinhedo em São Joaquim

Uma região que está crescendo muito nesses últimos dois anos é, com certeza a região da Serra de Santa Catarina, com seus vinhedos localizados em altitudes que variam de 900 até 1400 m.s.n.m. numa área que compreende os municípios de São Joaquim, Campos Novos, Caçador, Videira e suas respectivas regiões.
A maioria dos produtores estão reunidos numa associação de categoria, a ACAVITIS, que foi criada para dar suporte a seus associados junto aos órgãos oficias, defender seus interesses nas politicas publicas, qualificar e certificar a produção, além de buscar novos mercados.

O projeto vitivinícola desta região é muito interessante, focado na qualidade da produção, buscando na vitivinicultura uma visibilidade de projeção nacional, para aliar a cultura do vinho ao desenvolvimento turístico, ao exemplo do que acontece no Vale dos Vinhedos, que hoje recebe turistas de todo Brasil.
As uvas plantadas são todas de VITIS VINIFERAS (ainda bem que aqui não existe o cultivo daquelas pragas americanas e hibridas, que nada representam para o vinho), das variedades Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Cabernet Franc, mas também variedades menos comuns por aqui, como Sangiovese, Malbec, Tinta Roriz (também conhecida como Aragonez, ou Tempranillo), Touriga Nacional e Trincadeira. Com relação as variedades brancas os catarinense são mais conservadores, ficando apenas com as "clássicas" Chardonnay e Sauvignon Blanc.

Colheita de uvas geladas para produção de ICEWINE - Vinicola Pericó

VINHOS DE ALTITUDE. O grande diferencial desta região, como já acenamos antes, é a elevada altitude sobre o nível do mar, mas vamos ver exatamente como e porque essa altitude influi na qualidade das uvas e, consequentemente, do vinho.
Onde exatamente a altitude cria condições especificas de clima para contribuir de forma positiva para a viticultura? Começamos por dizer que, a cada 100 metros que sobe acima do nível do mar, o ar perde 1% de seu carbono, o que, levado para nossa região em questão, significa que no vinhedo catarinense, temos cerca de 10 a 12% a menos desse elemento na sua atmosfera.
As folhas, pela fotossíntese, extraem o carbono do ar para utilizá-lo em seu crescimento; nessa altitude, pelo carbono rarefeito, conforme a teoria acima, o ciclo vegetativo da videira se torna mais lento.
A menor pressão atmosférica, por causa da altitude, junto com uma maior proximidade do sol, provocam uma evaporação maior nas folhas, que, ao eliminar mais água que em altitudes menores, concentram os nutrientes que a videira suga do solo e formam uma seiva rica de alimentação que beneficiará os frutos.
Além disso a proximidade do sol propicia uma atividade acentuada da videira ao longo do dia e um descanso total no frio da noite, favorecendo a concentração dos nutrientes.
Por conta desses fatores teremos, em média, uma atividade vegetativa e de frutificação mais lenta, com períodos de maturação mais longos e consequente aumento da concentração NATURAL dos polifenóis (a maiúscula não é erro de digitação), que enriquecerão os aromas do vinho.


OS PRINCIPAIS PRODUTORES. Na Serra Catarinense a produção de vinho é muito recente, mesmo em nível de plantio não temos praticamente nada até o ano de 1999, a própria ACAVITIS, foi fundada em 2005; isso não chega a ser um problema, por ser uma região nova, não carrega os problemas de outras mais tradicionais, como o Vale dos Vinhedos, que poderia ser muito mais importante do ponto de vista da produção de vinho fino, mas que tem essa possibilidade negada pela extensa superfície de vinhedo de VITIS AMERICANA, conduzida em latada, caracterizando assim uma paisagem bastante inusual para o visitador que conheça as regiões vinícolas ao redor do globo, onde a condução em espaldeira é unanimidade; o lado positivo aí fica por conta do destino dessas uvas que hoje são utilizadas na produção dos excelentes sucos de uvas e, cada vez menos, para produção de péssimos vinho de mesa.
Para voltarmos a Serra Catarinense, os principais produtores são Villa Francioni, Pericó, Santa Augusta, Panceri, Krantz, Santo Emilio, Villaggio Grando, Quinta da Neve e outras menores.



A CURIOSIDADE. A testemunhar que estamos falando de uma região nova, não posso deixar de mencionar um fato curioso, que só encontrei aqui, bastante inusual se comparado as demais regiões vinícolas do mundo.  Praticamente todos os produtores de vinho de Santa Catarina, possuem seus vinhedos, mas muito poucos tem planta fabril para vinificação, essa é a novidade, pois no resto do mundo é comum que o viticultor que não tem vinícola própria, entregue sua produção de uva para ser vinificada em alguma cooperativa ou para outro produtor, mas esse último, paga o viticultor pela fruta e, geralmente, comercializa o vinho obtido com sua própria marca, de modo que ninguém sabe quem foi o produtor da uva.
Em Santa Catarina é o contrário, mesmo importantes vinícolas, que graças a qualidade de seus vinhos, conseguiram já destaque em nível nacional (Pericó por exemplo), não vinificam suas uvas mas entregam para alguma outra vinícola da região, a qual fará a vinificação, obviamente sob a supervisão do enólogo do produtor, e engarrafará com o rótulo do responsável pelas uvas.
Não deixa de ser um fato curioso que caracteriza, caso fosse preciso, o vitivinicultor brasileiro um sujeito de muita fantasia, que com criatividade consegue driblar o dia a dia e tocar projetos interessantes, como esse dos vinhos de altitude do Brasil.

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