sábado, 6 de agosto de 2011

PRAZERES DA MESA FORTALEZA - Degustação do Editor


No âmbito do evento PRAZERES DA MESA AO VIVO FORTALEZA, tivemos o privilegio de participar da degustação conduzida pelo editor da revista, Ricardo Castilho, na ocasião provamos 5 vinhos do chamado Novo Mundo, entre os quais dois brasileiros.
O publico presente não podia ser mais heterogêneo, desde alunos de gastronomia, chefes de cozinha, profissionais, jornalistas e curiosos de todo tipo.

Ricardo Castilho - Editor da revista Prazeres da Mesa

Não é fácil realizar uma degustação assim, por isso temos que dar o credito ao Castilho de ter conduzido de forma técnica o bastante para manter a atenção dos degustadores mais experimentados, ao passo que recuava toda vez que os detalhes ameaçavam mandar em parafuso a cabeça dos leigos ai sentados.

Espumante Maria Valduga

Para começar foi degustados um dos recentes ícones da produção de espumante da Serra Gaucha, o Maria Valduga, safra 2006, Champenoise de Chardonnay e Pinot Noir, passa 48 meses em segunda fermentação nas caves a temperatura controlada da Casa Valduga em Bento Gonçalves.
De cor amarelo dourado, apresentou um perlage perfeito, fino, persistente, deixando aquele colarinho na borda da taça; no nariz frutas frescas, com potencial de evoluir para notas amendoadas e de frutas secas, com mais algum tempo de garrafa; toques de pão tostado, tipico do champenoise, bastante complexo.
Na boca o que chama mais atenção é a grande cremosidade, com um pequeno gole enche toda a boca, numa explosão de gás carbônico e sabor realmente importante, boa acidez refrescante, apesar da longa maturação; final de boca longo e prazeroso.
O ponto critico é o preço, praticamente de Champagne francês, mas aí é que precisamos analisar a questão, esse é o tipo de vinho que DEVE ser degustados às cegas, junto com outros concorrentes da mesma faixa de preço e tipologia, para poder dizer a que veio; em minha opinião não vai fazer feio frente a nenhum Champagne não safrado.

Segundo vinho foi o chileno Gran Reserva Serie Riberas 2008, da Concha y Toro, da casta Sauvignon Blanc.
De cor amarelo claro esverdeado, intenso e limpo, sem defeito.
No nariz o toque herbáceo tipico da Sauvignon Blanc, de folha de tomate (ou arruda, ou aspargo, ou xixi de gato, reconheça como preferir, mas todo degustador percebe na hora a inconfundível "marca" da Sauvignon Blanc), muito típico, com um pouco de tempo de taça abriu interessantes toques de frutas tropicais (maracujá, por exemplo), o que é correto, pois o Riberas é um D.O. de Colchagua, uma região relativamente quente, que favorece o desenvolvimento desses aromas, sem esquecer que se trata de um 2008, já não muito jovem, portanto.
Na boca boa acidez refrescante, com um toque sápido mineral que faz deste vinho um excelente companheiro da gastronomia, bom volume de boca, certo corpo, bastante longo.

Terceiro vinho e primeiro dos tintos, foi a vez da Africa do Sul, Winemaster's Reserve Vintage 2007, um Cabernet Sauvignon produzido por Nederburg, na cidade de Paarl.
Bela cor granada, limpo intenso e sem defeitos.
No nariz o primeiro ataque é o vegetal característico da Cabernet Sauvignon, aquele pimentão verde que é marca registrada do varietal, mas que, quando sua presença é muito invasiva, se torna penalizante no conceito global do vinho. Apresentou notas de frutas vermelhas, um aroma terciário de evolução, que remete a algo tostado, mas em minha opinião o toque vegetal deste vinho foi um pouco excessivo, encobrindo os demais.
Na boca acidez média, mediamente encorpado de taninos moderados pelo estagio em madeira e garrafa, vinho de persistência media, melhor na boca que no nariz.

Foi a vez de um tinto brasileiro da Vinicola Salton, o Salton Volpi Pinot Noir 2009, produzido em Bagé, na Campanha Gaucha.
A cor é aquela característica da Pinot Noir, reflexos granada de pouca intensidade e lagrimas abundantes e "preguiçosas", sem defeito.
No nariz revelou frutas vermelhas, mas ficou faltando o toque floral típico da Pinot Noir, na verdade o nariz apresentou pouca tipicidade, estava um pouco fechado.
Na boca melhorou consideravelmente, mostrou boa personalidade, franqueza, acidez médio / baixa e corpo médio, apesar dos 13,7% de álcool, o vinho em nenhum momento apresentou-se quente ou desequilibrado, final de boa persistência e aroma de boca que revelou a tipicidade que o nariz tinha escondido, quase a querer guardar um segredo.

Ultimo vinho da noite, Gala 2, safra 2008, de Luigi Bosca, Lujan de Cuyo, Mendoza, um corte Bordalés com 85% de Cabernet Sauvignon.
Cor vermelho rubi, com reflexos granada, muito intenso, dando a entender que pode envelhecer ainda alguns anos, lagrimas intensas e abundantes, pudera, 14,7% de álcool!
No nariz um vinho franco, nítido e amplo, frutas pretas muito maduras, aromas de evolução, couro, toque tostado, formando um bouquet rico e complexo de vinho importante.
Na boca é suave, a doçura dada pelo elevado teor alcoólico, deixa o vinho super agradável, taninos macios e suculentos contribuem para uma sensação de vinho aveludado, encorpado, de baixa acidez e longa persistência, a disputar o troféu de melhor vinho da noite com o espumante Maria Valduga, o preço também é na mesma faixa.

Vinhos degustados na ordem de serviço de esquerda para direita.

A coisa que impressiona favoravelmente, analisando a degustação como um todo, é a boa performance dos vinhos nacionais, os quais disputam em condição de plena igualdade, com vinhos de diferentes partes do mundo, sem mostrar nenhuma inferioridade, algo do qual o enófilo brasileiro deveria se orgulhar, infelizmente não é a percepção que temos ao visitar certos blog e ouvir certos comentários depreciativos e preconceituosos.
A primeira coisa que aprendi sobre vinho, em curso de sommellier, foi que nossa função não é malhar quem faz o vinho, se não puder elogiar o trabalho dos outros (lembramos que o vinho não é feito apenas pelo dono da vinícola, mas por muitas pessoas que trabalham e se esforçam), seja discreto em sua critica, pode muito bem ser que você não entenda tanto assim do assunto quanto gosta de aparentar, mostrará assim mais respeito, inclusive para o consumidor, deixando para ele a tarefa de decidir daquilo que gosta ou não.

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