domingo, 13 de novembro de 2011

BORBULHAS BRASILEIRAS, UMA REALIDADE DE ORIGEM ITALIANA

Mirante sobre o Rio - Nova Padua

Se existe um produto originário da uva que o Brasil aprendeu a fazer com maestria, é o espumante, nas colinas do Sul se produzem indistintamente o jovem e cativante Charmat, o complexo e elegante Champenoise ou o suave e refrescante Moscatel, parecido com o famosos Asti Spumante.
Precisa dizer que os espumantes brasileiros, em mais de uma oportunidade, souberam ganhar a atenção da critica internacional, ao ponto de conseguir que um representante da produção borbulhante nacional, fosse escolhido para ser degustado ao vivo, durante a WINE FUTURE de HONG KONG, por JANCIS ROBINSON, Master of Wine e critica de renome mundial.
Os principais vinhedos são localizados na Serra Gaucha, a 120 km de distancia de Porto Alegre, essa região recebe, como sua primeira população, no ano de 1875, uma leva de imigrantes italianos, vindo das regiões do Veneto e do Trentino.
Famílias inteiras, como os Salton, Panizzon, Miolo, Valduga, Boscato, Molon, Basso e muitos outros, deixarão seu nome de família escrito na historia do vinho entre essas montanhas.
Estes primeiros colonos fundaram cidades, promoveram a agricultura, o comercio e as primeiras rudimentares atividades industriais, transformando assim aqueles morros selvagens na região que atualmente conta como o melhor índice de Desenvolvimento Humano de todo o Brasil, segundo dados oficiais da ONU.
Localizada por volta do 29º de Latitude Sul, esta região de clima ameno, tem temperaturas que variam de -5ºC no inverno, até os 32ºC nos meses entre Dezembro e Fevereiro.
As altitudes variam desde 600 metros aos 800 metros, com pontas de até 1000 metros, onde o frio noturno se faz intenso, provocando uma amplitude térmica benéfica para a maturação e a concentração dos componentes fenólicos das uvas; vinhedos e bosques formam o panorama dessa região.
O solo é de tipo arenoso e argiloso com característica de certa acidez, com uma drenagem não muito eficiente.
Para piorar a situação as chuvas costumam chegar no fim do verão, justamente quando a videira termina seu ciclo de maturação, pondo em risco a vindima.

Panorama da Serra Gaúcha - Bento Gonçalves

Por estes motivos, não é fácil uma gestão climática dos vinhedos de uvas tintas, que apresentam uma maturação mais lenta e demorada. Nesta região existe uma tendencia natural à produção de uvas ricas de certa acidez, com um não elevado grau de maturação e relativamente baixo teor de açúcar, características proprias das uvas brancas precoces, como Chardonnay, Gewurztraminer e outras variedades aromáticas, notadamente as melhores para produção de vinho base espumante de qualidade.


O RIESLING ITÁLICO.
Uma interessante descoberta no panorama ampelográfico da Serra Gaucha, é sem duvida o varietal RIESLING ITALICO, longínquo parente do mais badalado Riesling Renano, com o qual pouco tem em comum.
Junto com o corte internacional de Chardonnay e Pinot Noir, entra na composição de muitos espumantes brasileiros, influindo diretamente em suas características qualitativas; vejamos por que.
Antes de tudo este varietal, de uva branca, não é plantado em nenhum outro lugar do Continente, alias não encontramos Riesling Itálico em praticamente nenhuma região produtora do Novo Mundo, apenas no Norte da Itália e em alguma sub - região da Alemanha, é possível encontrar Riesling Itálico, porem se trata quase sempre de produções de baixo perfil qualitativo.
Varietal muito resistente, vigoroso e bem adaptado ao clima peculiar da região, o Riesling Itálico brota apenas na segunda quinzena de Setembro, evitando assim as perigosas geadas de fim de inverno; com um ciclo vegetativo relativamente curto, geralmente é colhido até o fim de Janeiro, a tempo de fugir das frequentes, e temidas, chuvas que caem entre Fevereiro e Março, autentico pesadelo dos vitivinicultores gaúchos.

O vinho produzido por esse varietal geralmente apresenta cor amarelo - palha com reflexos esverdeados, nariz não muito intenso, com toques cítricos, maças e flores brancas; na boca se percebe uma agradável acidez, é um vinho de não elevado teor alcoólico, não muito persistente.
O Riesling Itálico, na versão base espumante, cresce em qualidade, pois mantem as características de leveza e finesse ganhando uma boa complexidade aromática, devido a segunda fermentação e ao sucessivo afinamento em garrafa.
Outra peculiaridade do espumante produzido a partir de Riesling Itálico, é que apresenta um aroma primário não muito intenso, sem excessivas notas varietais que para o espumante de qualidade seriam um defeito; de tal forma o espumante pode exaltar os aromas secundários da refermentação, além de não desenvolver aromas desagradáveis com o eventual envelhecimento.
Na Serra Gaucha se utilizam indistintamente, com sucesso, tanto o Método Charmat como o Método Tradicional (ou Champenoise), neste último caso existem vinícolas especializadas que conseguem excelentes resultados com vinhos que permanecem até 4 anos sobre as borras finas, adquirindo cremosidade e elegância que, em degustações às cegas, não temem o Champagne, como em várias ocasiões tive a oportunidade de experimentar.

ESPUMANTE MOSCATEL.
Outro grande espumante produzido nessa região é, sem duvida, o Moscatel, de qualidade internacional, como varias vezes foi destacado pela critica pelo mundo afora.
Deste espumante, produzido a partir do Metodo Asti, cada produtor engarrafa sua versão, obviamente existem importantes diferenças entre uns e outros, depende da matéria prima, a uva, utilizada.
Na Serra Gaucha são permitidos os varietais brancos a seguir:
Moscato Giallo; Moscato Bianco, parente muito próximo ao Moscato que se utiliza na região de Asti, no Piemonte; a Malvasia, sub - variedade Candia, considerada um verdadeiro Moscatel e a Malvasia de Lipari.
A diferença de qualidade, e preço, entre os diferentes vinhos, é determinada pela proporção em que as diferentes uvas citadas acima, entram no blend final; para isso merece especial atenção também o tipo de condução do vinhedo.
Infelizmente no Brasil é amplamente utilizada a "Pergola", ou "Latada", muito produtiva, mas de baixo perfil qualitativo. A condução do vinhedo em "espaldeira" é utilizada apenas por aqueles produtores cujo caminho é pautado pela busca constante da qualidade, na tentativa de adequar seus vinhos aos padrões internacionais; no caso especifico do Espumante Moscatel, certos exemplares da Serra Gaucha já demonstraram que podem enfrentar, de igual para igual, se provados às cegas, os celebres Asti italianos.

OS PRINCIPAIS INTERPRETES DAS BORBULHAS BRASILEIRAS.
Os principais produtores de espumantes do Brasil, são todos de clara origem italiana, vejamos em ordem de quantidade:

SALTON, no ano de 2010 comercializou mais de 4,5 milhões de litros de espumante, entre Charmat, Champenoise (modesta quantidade) e Moscatel.

CHANDON, único não italiano, ocupa o segundo lugar na produção de espumante, nada menos que o braço brasileiro do colosso francês Moet Chandon, comercializa somente espumantes feitos pelo Metodo Charmat e Charmat Longo, quase 1,8 milhões de litros.

COOPERATIVA VINÍCOLA AURORA, com 1,664 milhões de litros, entre Moscatel, Charmat e pouco Champenoise.

MIOLO, fundada por Giuseppe Miolo, italiano de Piombino Dese, perto de Padova, mais de 1 milhão de litros, produz todo tipo de espumante.

COOPERATIVA VINÍCOLA GARIBALDI, com 850 mil litros.

CASA VALDUGA, de emigrantes italianos, vindos de Rovereto, o sexto maior produtor se diferencia por ser a única vinícola especializada exclusivamente no Método Champenoise, do qual consegue até um Prosecco de boa qualidade, como os demais produz também Moscatel.

Fonte: dados da produção UVIBRA, informações ampelograficas EMBRAPA.
Nota: Este artigo foi publicado na edição de Novembro da revista italiana Il Sommelier.

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