sexta-feira, 11 de março de 2011

O preço do vinho brasileiro

É assunto recorrente nos blogs de vinho a questão sobre o elevado preço do vinho brasileiro em comparação aos importados, em muitos casos o assunto é explicado de forma simplista, alegando a "ganância" do produtor brasileiro.
Me deparei com um estudo completo cuja leitura recomendo para todos aqueles que gostam de se informar sobre as questões polêmicas, já para os que se limitam a julgar superficialmente, bem para eles não adianta, pois já liquidaram a questão.

Um dos fatores principais que causam o elevado preço é a tributação vergonhosa que nosso vinho sofre, o vinho no Brasil é tratado pelo Erário como bebida super alcoólica, enquanto na maioria dos países produtores (toda a Europa, Chile e Argentina), é considerado complemento alimentar.
Precisa reconhecer que no Rio Grande do Sul, principal produtor nacional, na parte que toca ao Estado (ICMS) o vinho de fato é tributado pela mesma alíquota dos alimentos (17%); o problema acontece quando o vinho sai de lá e vai para os outros estados da Federação, pois ali é cobrada a diferença entre o ICMS de origem e o de destino que geralmente gira em torno de 25%.
Não quero entrar aqui em mérito a questão da Substituição Tributária que é outro bicho de 7 cabeças, vamos ficar com o que já temos que é mais do que suficiente.

Segundo o estudo  http://www.sober.org.br/palestra/2/392.pdf o vinho brasileiro paga algo como 45% a 46% de imposto a cada garrafa, mas o problema não é apenas a alta tributação, mas sim como a gente fica perante a concorrência, vejamos.
Sabemos, por exemplo, que no Chile, quando o vinho é exportado, recebe a isenção do imposto adicional às bebidas (15%) enquanto a IVA (Imposto sobre Valor Agregado 19%) gera crédito tributário para o exportador, o qual vai pagar apenas o Imposto de Renda de lá de 17%; daí para 45% do nosso.....

Na Argentina a coisa é mais complicada ainda, se considerarmos que, em virtude do Convênio de Competitividade, firmado entre o Governo Federal, o Governo Provincial e representantes do setor vitivinicola, todo o vinho exportado para o Brasil é isento do imposto interno, do imposto sobre os interesses pagos, bem como do imposto sobre a renda mínima presumida; uma vez que chega ao Brasil ainda é isento de Imposto de Importação (regalia da qual o vinho europeu não goza, pois paga imposto de importação de 27%).

Mas não pensem que a questão tributária seja a unica que dificulta baixar o custo do vinho brasileiro, tem aspectos de caracter cultural e ligados ao tipo de produção vitivinicola, mas isso será tema de outro post.

7 comentários:

  1. Não caia na armadilha do imposto na origem. O vinho importado, inclusive o Argentino, depois que entra no Brasil está sujeito a todos os mesmos impostos que os vinhos Brasileiros, inclusive IPI (que é um imposto sobre a produção). A outros fatores que incluenciam o custo da produção, mas um dos principais problemas do Brasil é que se montou em esquema de produção para Vinhos Premium. Um exemplo disso é essa bela foto de adega que está no cabeçalho de seu blog, mais bonita que muito castelo europeu e cheia de garrafas de vinhos que estão aí só empatando o dinheiro do vinicultor. Essas garrafas de vinho deveriam estar no mercado a tempo.
    É produtor precisa fazer uma definição melhor de seu negócio. Se o negócio é vinho, tem que cortar os custos pela raiz, produzir o que melhor pode fazer e vender a um preço bem aceito pelo mercado, tem que ser um preço que permita cobrir os custos, pagar os impostos e, muito importante, escoar toda a produção o mais rápido possível.

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  2. A história é triste, mas não justifica vinho nacional a R$ 100/R$ 200. Isso é mais caro que Barolo vendido no Brasil. Aliás, Barolo que paga imposto na Itália, no Brasil e ainda tem custo de frete. Sem falar no custo de produção. Seria legal checar o custo da terra e da mão de obra no Piemonte X Serra Gaúcha. Abraço!

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  3. Luciano, muito obrigado pelo seu comentário, concordo com voce quando diz que o vinho argentino quando chega aqui recebe o tratamento tributário igual ao brasileiro, porém ainda conta com um custo de produção inferior, esse aspecto vou tentar abordar num próximo post, com relação aos vinhos da foto acima eles estão aí justamente por serem vinhos de qualidade superior aos comuns e que portanto precisam passar alguns meses na cave do produtor antes de sair ao mercado, pois eles ainda não estão prontos para o consumo, são vinhos de guarda que tem um preço diferenciado e uma qualidade condizente, penso até que seja uma atitude de respeito para o consumidor não soltar no mercado vinhos que, pela própria evolução, não estejam ainda no tempo ideal de consumo, isso encarece o preço mas evita que o consumidor funcione como "banco" do produtor, envelhecendo em sua casa o vinho até que este fique pronto, em lugar do produtor fazer isso.
    Essa mesma vinícola produz vinhos pela metade do preço dos da foto, os quais não passam pelas caves de envelhecimento, apenas se a tributação fosse menos injusta, a exemplo do que acontece em outros países, onde o vinho é considerado complemmento alimentar e não bebida super alcoolica, todos eles poderiam ser mais baratos ainda, inclusive os importados.

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  4. Paulo, muito obrigado pela sua participação, concordo com voce quando fala sobre as diferenças de custo dos terrenos no Piemonte e da mão de obra, porém precisamos definir que tipo de vinho estamos analisando.
    O Barolo é um vinho DOCG regido por um disciplinar que determina o tipo de uva a ser utilizado (Nebbiolo da Barolo), a produção de uva por hectare (max. de 8 ton./hectare), o rendimento da produção acima em vinho (65% após o envelhecimento), o tempo mínimo de envelhecimento (mínimo 3 anos, dos quais 2 em madeira), após isso ainda deve ser aprovado por uma comissão de degustação para avaliar se suas características organolepticas se enquadram na tipologia do vinho.
    A partir daí podemos ter um Barolo que se encaixa nas exigências mínima do disciplinar e que aqui no Brasil pode ser adquirido pelo preço que voce menciona em sua resposta, mas, se o produtor for um "maníaco" da perfeição, como meu amigo Giorgio Rivetti do La Spinetta, então a produção dele será de, no máximo 1,8 ton./hectare, o rendimento da uva em vinho dificilmente vai passar do 50%, e será ele pessoalmente a cortar os cachos no pé para evitar o amadurecimento, pois só um "maníaco" tem coragem para isso, então nos teremos um vinho "FORA DE SÉRIE", que conquista premiações no mundo todo e que custa, pasmem, US$ 379,50 no catalogo da Vinci de São Paulo.
    Se o produtor que, na Serra Gaúcha, for vitima da mesma "doença" que atacou o piemontés Giorgio do outro lado do planeta, se ele estoca rolhas e rótulos que se destinam ao seu vinho ícone em camara refrigerada exclusiva para isso, se ele engarrafa esse vinho só quando a safra for mais que excelente, a ponto dele mesmo não saber quando será a próxima vez que poderá lançá-lo e de todo modo só vai soltar esse vinho no mercado após mais de 5 anos de evolução na cave da vinícola, então esse vinho será o Anima Vitis de Boscato, de Nova Padua, caberá a nós saber se gostamos o não, se achamos certo pagar os R$ 300,00 que ele cobra, porém, por respeito ao exaustivo trabalho dele, devemos degustá-lo as cegas, para não sermos influenciados por sua origem.
    Alem de Boscato temos também o Storia da Casa Valduga, em torno de R$ 100,00, um vinho que João Valduga extrai do vinhedo atrás da casa dele, a quadra 1, que foi mapeado por anos para estabelecer quais parcelas produzem as melhores uvas que são colhidas separadamente e só no dia de sua máxima maturação, vinificadas utilizando as mais modernas tecnologias e maturando anos em barricas francesa de 1º uso, de 225 litros (ao custo de R$ 2.200,00 cada).
    Esses vinho são caros, com certeza, porém refletem a paixão do produtor pelo que faz, talvez isso não possa ser medido com o mesmo metro que utilizamos para os vinhos comuns, mas temos todo o direito de criticá-los e discutirmos exaustivamente sobre isso, por isso, Paulo, muito obrigado pela sua participação, um abraço.

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  5. Eu nem entrei na comparação de qualidade, pois esta é uma discussão complicada. Particularmente achei o Storia um vinho bom, mas certamente abaixo de um Barolo, mesmo comum. Nem chega perto do Barolo Batasiolo, apenas para não deixar a coisa tão genérica. Mas aí vão dizer que é questão de gosto etc...

    O que eu discuto é que não é razoável o Storia, produzido no Sul do nosso país, custar o mesmo que um Barolo, que é produzido sob um monte de normas, há milhares de km de distância, e que paga frete, impostos locais e impostos no Brasil, além de ter um custo de produção maior - como eu disse, apenas a mão de obra e o valor do terreno no Piemonte já seriam o suficiente para tornar absurda a comparação de preço com o Brasil.

    Respeito o amor que o produtor tem pelo vinho e pelo seu trabalho, mas também quero respeito pelo meu dinheiro, que é ganho igualmente com trabalho.

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  6. Caro Paulo, novamente obrigado pela sua opinião,
    Antes de tudo preciso dizer que eu sou grande fã do Barolo, prefiro sinceramaente um vinho europeu a um vinho do novo mundo, sobretudo um vinho do Piemonte, minha terra natal.
    Com relação ao preço acho que, nesse caso, e' questão complicada, os parâmetros de produção , tanto para o Barolo como para o Storia, são muito próximo, eu prefiro pensar que se trata de dois ótimos vinhos , um dos quais produzido no Brasil, que poderia ser mais barato mas, por uma serie de fatores, desde a tributação ate a própria situação de mercado, que esta favorável para vinhos de alta gama, estão disputando a preferencia do consumidor em pe' de igualdade, na minha opinião.
    Apenas de uma coisa tenho certeza, para produzir o próprio Barolo, Batasiolo não precisou caprichar tanto nos cuidados quanto o Valduga, o grande aliado dele foi o terroir fantástico de Langhe, inimitável e único.

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  7. Acho que você mencionou a palavra que melhor explica os R$ 120 do Storia: mercado. Se existem pessoas que pagam, por que não cobrar esse valor? Eu não sou contra o vinho nacional e inclusive acho a Casa Valduga uma das melhores vinícolas nacionais. Mas não pagaria nunca os R$ 120 no Storia. Já bebi em uma degustação, por conta de uma revista. Mas por minha conta não dá.

    Engraçado você ser do Piemonte... Juro que dei o Barolo como exemplo sem saber sequer que você era italiano.

    Abraço!

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