segunda-feira, 11 de junho de 2012

CHILE TERRA DE CONTRASTES E DE GRANDES VINHOS



GEOGRAFIA CLIMA E TERROIR

Visão do Aconcagua - lado chileno

Como em todos os países da America Latina, também no Chile a parreira chegou através dos conquistadores e dos missionários europeus, por volta do século XVI: desde então, até a segunda metade do século XX a videira arranjou-se como pode para sobreviver em ambientes nem sempre propícios e, nos últimos trinta anos, viu renascer sua importância e seu valor, ficando no centro das atenções.

O país que antes dos demais conseguiu dar a merecida visibilidade aos vinhos do Sul das Américas é, sem duvida, o Chile, seus vinhos são apreciados nos principais mercados internacionais, onde representam alternativas confiáveis e mais econômicas aos exemplares cada vez mais caros, de Califórnia e Austrália, com os quais dividem as prateleiras da grande distribuição pelo mundo afora. Ultimamente o Chile surpreendeu o mundo apresentando vinhos com excelente qualidade e tipicidade, tintos estruturados na maioria, com alguns brancos refrescantes e aromáticos.

Antes de tudo é bom dar uma olhada na geografia do Chile, país espremido entre a Cordilheira dos Andes ao Leste e o Oceano Pacifico a Oeste; ao Norte, na divisa com o Peru, temos o deserto do Atacama e ao Sul, a Terra do Fogo e a Antártida com suas geleiras, seus pinguins etc.

O desenvolvimento da vitivinicultura moderna no Chile é fruto da conscientização que as características climáticas, ou melhor, microclimáticas, precisam ser compreendidas e exploradas de forma consciente, no total respeito ao meio ambiente, na busca daquela qualidade que, tenho certeza, o potencial do terroir chileno, ainda guarda para os enófilos do mundo todo.

Vale de Casablanca

Alguns números: O Chile mede 4.270 Km de Norte a Sul e apenas 177 km em media de Leste a oeste, estes dados nos levam inevitavelmente a pensar nele em sentido longitudinal, mas a geografia do Chile é mais complexa do que pode aparecer a primeira vista.
Considerando as barreiras naturais que formam uma proteção entorno dos vinhedos chilenos, temos o deserto ao Norte e as geleiras ao Sul; ao Leste o Chile é protegido pelos picos da Cordilheira, com o Monte Aconcagua a erguer-se a quase 7.000 metros, enquanto pelo lado Oeste a barreira é formada pelo Oceano Pacifico, cujas águas sofrem a influencia da corrente de Humboldt, que a partir das águas geladas da Antártida, torna muito pouco atrativa a pratica do banho de mar; curioso observar que quando a corrente encontra o litoral, provoca nevoeiro e nuvens baixas, mas poucas chuvas, contribuindo assim a fazer do Atacama o deserto mais seco do mundo. Então temos aí o quadro completo de uma região peculiar, onde a parreira cresce e se desenvolve dentro de um Oasis, protegida por situações geográficas extremas, isoladas inclusive das pragas naturais que aterrorizam os vinhateiros do resto do mundo, como a terrível philoxera, que por aqui nunca apareceu.

Parreiras antigas de Cabernet Franc no Vale do Maule

Pode parecer um paradoxo, mas os 177 km de largura média do Chile, para o vinho de qualidade, pesam mais que os 4.000 e tantos de cumprimento deste país,; o que vale mesmo, caso a caso, é a proximidade dos vinhedos às frescas e úmidas brisas da Costa, onde as uvas brancas e o Pinot Noir dão o melhor de si, ou a localização nos vales do interior, de clima quente e ensolarado, terra dos grandes Cabernet, dos suculentos Syrah e do varietal exclusivo chileno, o Carmenere; chegando até as vertentes da Cordilheira, onde os vinhedos são plantados nas encostas de  insolação acentuada e elevada excursão térmica; aqui os vinhos assumem uma característica mais elegante, refrescante e gastronômica, ao estilo europeu, diferenciando-se daqueles típicos exemplares frutados e de alto teor alcoólico, que fazem o estilo “Novo Mundo”.

Alem disso sabemos quanto a geologia seja importante na qualidade dos vinhos, o fato que o Chile seja situado justamente sobre a união das placas tectônicas de Nazca e Sudamericana, faz desta terra uma área rica de solos de diferentes composições convivendo lado a lado, no espaço de poucos quilômetros, configurando vários terroir distintos entre si, possibilitando vinhos de tipicidade diferente, para a felicidade do enólogo que saiba interpretar sabiamente este presente da natureza.

O artigo acima foi publicado na revista italiana "Il Sommelier" na edição de Maio / Junho 2012.

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