domingo, 30 de janeiro de 2011

CASA VALDUGA PREMIUM CABERNET FRANC 2007

CASA VALDUGA PREMIUM CABERNET FRANC 2007

Outro dia abri uma garrafa de CASA VALDUGA PREMIUM CABERNET FRANC 2007 ( em torno de R$ 60,00 na mesa de restaurante), um vinho produzido por uma das principais vinícolas brasileiras, a Casa Valduga, vinícola de expressão, produz mais de 1 milhão de litros / ano, o que a coloca lá pelo 5º ou 6º lugar entre as vinícolas brasileiras, embora muito longe dos quase 9 milhões da Miolo, líder de produção.

A Casa Valduga ocupa um lugar de destaque na percepção, não somente brasileira, dos vinhos de qualidade, percepção sacramentada pelo reconhecimento internacional que a vinícola conseguiu, em decorrência dos resultados alcançados pelos seus vinhos em competições e concursos pelo mundo afora.

A linha Premium é o primeiro passo para quem quer sair dos vinhos leves, jovens, tipicamente comerciais e se aproximar de algo mais complexo, envolvendo uma seleção mais rigorosa das uvas, um estagio em madeira e depois na garrafa, buscando algo mais complexo e profundo, além das frutinhas vermelhas.
A safra era a de 2007, atualmente em comércio; a vinícola nos conta que esse vinho passou por um estagio em barricas de carvalho francesas de 1º e 2º uso durante oito meses; considerando que foi lançado ao comércio em 2010, temos aí um vinho que entre vinificação, maturação e envelhecimento, demorou em torno de três anos para ver a luz da ribalta.

A pergunta é, valeu a pena esse tempo todo? Sabemos que a Cabernet Franc é uma das uvas tintas que o Terroir do Vale dos Vinhedos escolheu como as preferidas, a outra é a Merlot.

Na analise visual não temos o que argumentar, o vinho se apresenta de um rubi bastante intenso, típico dos vinhos que estagiaram um tempo considerável em barrica, nos indica um potencial de evolução bastante longo: três ou quatro anos, talvez cinco.

O nariz desse Cabernet Franc a principio é bastante arredio, fechado, não deixa muitas pistas sobre o seu futuro, as notas frutadas são percebíveis mas ficam presas no bouquet bastante hermético desse vinho, ele melhora depois de um tempo de respiro, porém não consegue atingir a amplitude que gostaríamos, depois que esperamos todo esse tempo.

As notas terciárias, da passagem na madeira, ficam evidentes, muito evidentes, invasivas mesmo; parece que a fruta ficou subjugada pela barrica, apenas depois de quase meia garrafa é que reparamos num franco aroma de cassis, que sempre esteve ali, mas que não conseguia romper a barreira da própria timidez, por causa da exuberância do carvalho, que tudo domina e tudo subjuga.

Na boca, os primeiros goles, de fato, foram extremamente influenciados pela passagem na madeira, o vinho tende a amargar, dando um trabalho danado na hora de harmonizar com algum prato, fato que nos leva a refletir mais uma vez se esse estagio todo valeu a pena.

Cabe aqui uma ressalva em favor desse vinho, ainda que a influência da barrica seja inegável, preciso salientar que nunca chega a passar aquela impressão de “suco de carvalho em calda de baunilha” que, tão freqüentemente, se encontra em certos rótulos, sobretudo do Chile, de preço próximo ao nosso, afugentando assim, em definitiva, a suspeita de eventual “chipagem” do vinho (a utilização de chip de madeira na vinificação, mesmo se permitida por lei, não é tão difícil de ser identificada, numa degustação atenta).

Com o passar dos minutos a percepção gustativa melhora, porém cabe a reflexão sobre esse uso, e abuso, da barrica de carvalho, para amaciar uma eventual veia vegetal e acida do varietal.
Será que isso não acaba por descaracterizar um vinho que, me parece, foi tratado como um Cabernet Sauvignon, mesmo faltando-lhe a estrutura que esse teria, chegando assim a descaracterizar sua verve acida e rebelde de vinho floreal e gastronômico, debaixo de uma mascara de madeira que inibe, e muito, sua performance.

Na atual conjuntura enológica mundial, que nos últimos tempos está buscando fugir dos recursos e da intervenção humana na vinícola, em favor da franca expressão do que o terroir tem a nos oferecer, talvez esse vinho esteja caminhando na contramão.

Analisando o vinho pela sua performance, dentro de sua faixa de preço, podemos dizer que com certeza não decepciona, pois se mantém no padrão de qualidade condizente; porém nossa reflexão é que, talvez, a Casa Valduga tenha perdido uma ótima oportunidade de ir além de um vinho correto e internacionalmente aceitável, para produzir algo mais fiel e revelador das potencialidades do terroir do Vale dos Vinhedos, dando assim um passo importante na busca pela vocação da vitivinicultura brasileira de qualidade. 

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