sexta-feira, 1 de julho de 2011

ICEWINE DO BRASIL - O Que VOCÊ acha?


Recentemente a Pericó anunciou que, graças as condições climáticas favoráveis da Serra Catarinense, conseguiu realizar a colheita de uma parcela de Cabernet Sauvignon que se encaixavam nos padrões específicos para a produção do Icewine.
A prerrogativa principal das uvas é que elas precisam estar congeladas e devem ser mantidas em baixíssima temperatura durante a prensagem para favorecer a separação do sumo da água (congelada) contida no bago.
Não queria aqui abordar o assunto do aspecto técnico de como é feito o Icewine pelo mundo afora, mas o que me chamou a curiosidade foi que dois posts, em dois blogs diferentes, provocaram comentários nada positivos com relação a esse vinho.
A primeira vista esses comentários foram de pessoas que falaram a toa, de graça, mas a dúvida é legitima e permanece para ser passada a limpo.
A pergunta é: o Brasil tem condições de fazer um Icewine de qualidade?
Vale a pena a mão de obra e o cuidado (maniacal, acreditem) que precisa devotar ao vinhedo?
O resultado paga o esforço?
Pessoalmente não tenho grande conhecimento do Icewine, por isso gostaria da opinião de alguém que conheça esse tipo de vinho, mas, mesmo sem ser expert no assunto, vou me arriscar em algumas considerações.
Se hoje o Icewine da Pericó fosse submetido a prova as cegas com outros vinhos desse estilo, provavelmente seu desempenho não seria tão brilhante, por causa tanto da falta de experiencia do produtor, como pelo fato que nem o terroir e nem o vinhedo estão historicamente adaptado para a produção de um vinho assim, tanto que se trata do primeiro exemplar.
O preço é muito alto, isso faz com que a expectativa cresça expondo à critica sem piedade, as eventuais imperfeições.
Porque então insistir e dar continuidade ao projeto?



Talvez pelo mesmo motivo que através dos próprios erros e acertos é que podemos inovar e crescer.
Se a natureza oferece as condições de fazer um vinho assim, porque não tentar? Afinal de conta o vinho no Brasil está engatinhando, a enologia, mas sobretudo a viticultura nacional, se desenvolveram de dentro para fora.
Além de exemplos isolados (Chandon), não tivemos importantes vinícolas e marcas mundiais que um belo dia resolveram adquirir propriedades e investir na produção de vinhos aqui (Almadém é um exemplo, acabou sendo repassada para a Miolo e a multinacional vendeu todas suas unidades fabris no Rio Grande do Sul), como aconteceu nos vizinhos Chile (Mondavi, Mouton e Lafite Rotschild, apenas os mais famosos) e Argentina (aqui a lista é imensa, Alta Vista, Trapiche, Alto Las Hormigas, O. Fournier e muito mais).
Tudo o que sabemos sobre vinho e vocação de terroir foi descoberto aqui e por nós, por isso ainda hoje é mais comum na Serra Gaúcha a condução de vinhedo com a super-produtiva latada em lugar da espaldeira, de melhor qualidade.
Nesse momento histórico, de primeiros consensos, no ambiente de descobertas e inovações, inclusive tecnológicas, pelo qual está passando o mundo enológico brasileiro, eu creio que devemos aplaudir a tentativa de fazer um vinho difícil e peculiar como o Icewine, desde que obviamente sejam reunidas as condições de qualidade minimas necessárias para ter exito.
Se o primeiro ainda não tem condições de encarar de frente canadenses e alemães, antes de desistir, vamos lutar para fazer melhor e a crítica faça seu papel, de criticar, de forma construtiva, mas, por favor denegrir e esculachar não, por favor, isso é tão inoportuno quanto pouco inteligente, a atitude mais improdutiva que alguém pode tomar.
Essa é minha opinião, mas gostaria de conhecer outros pontos de vista, quem sabe de alguém que conheça o Icewine.  

5 comentários:

  1. Iniciado o Pericó Icewine – safra 2011, a -9º C.
    Com as temperaturas bem abaixo de zero antes do sol nascer, nesta madrugada de 28 de junho de 2011, a Vinícola Pericó iniciou a elaboração da safra 2011 do Pericó Icewine. As uvas Cabernet Sauvignon, perfeitamente maduras, estavam congeladas naturalmente a -9º C, quando a colheita foi cuidadosamente feita pela equipe Pericó, a 1.300 m.s.n.m.
    Esta temperatura é inferior à colheita da safra 2010, que foi a -7,6ºC.

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  2. Obrigado pelas informações e pela participação, abraços

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  3. Na Alemanha e Austria os Eiswein devem ter pela legislação 25ºKMW(Klosterneuburg Must Weight)"grau Babo" e serem colhidas a -7ºC e no Canada a -8ºc deacordo com o VQA). Qual o ponto chave da qualidade desses vinhos? Além de ser um congelamento natural é muito importante o processo de maturação da uva, ter uma maturação prolongada, o suficiente para o açucar ser sufiente e manter caracteristicas frescas e não longa demais para não sofrer com o mofo e podridão, e enfim, chegar o inverno e congelar tudo. A pergunta é, os brasileiros conseguem chegar num ponto de equilibrio? é sabido da utilização de cryoextraction (congelamento mecânico)porém as uvas que passam por esse processo sofrem com perda de sabor, pois, não desenvolvem os sabores resultantes da estendida maturação dos terroir tradicionais. O Pericó possui um residual de açucar no vinho final entre 80g/l e 90g/l enquanto um Alemão ou Austriaco chega normalmente a 105g/l, isso não quer dizer o brasileiro seja extremamente inferior é apenas o começo, Don Perignon desenvolveu o metodo champenoise por anos até chegar no resultado de sucesso. O ponto chave de tudos que elaboram é concentrar o vinho o maximo possivel, enquanto a uva é prensada os cristais de gelo permanecem na prensa e o suco flui concentrado,ai vai uma fermentação longa "bem longa".
    Curiosidade: Na decada de 90 a Vineland Winery(Canadá) quebrou uma prensa ao tentar prensar uvas colhidas a -20ºc.
    Parabens a pericó pela iniciativa!!!!

    Abraços, Fabio Cardoso

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  4. Fabio, quando se fala de um comentário construtivo e que acrescenta informações e conhecimento, parabéns e muito obrigado.
    Abraços,
    Marco Ferrari

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  5. Oi Marco,

    Segue abaixo um bom artigo em referência a Ice Wine:

    http://www.winesofcanada.com/icewine3.html

    Um abraço
    Ulf

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